
“Ao permitir que seus atendentes façam home office, a startup Home Agent cria oportunidades ao empregar perfis que têm dificuldade de entrar no mercado de trabalho tradicional, como mães com filhos pequenos e pessoas com mobilidade reduzida.”
É comum, no caso de modelos de negócio que de fato transformam significadamente a realidade de um grupo de pessoas, a ideia criativa surgir de uma necessidade do próprio criador ou de alguém próximo. Essa é exatamente a história da Home Agent, startup fundada pelo engenheiro Fabio Boucinhas, de São Paulo, para oferecer o serviço de call center remoto a grandes empresas. A ideia veio em 2010, quando um cliente da Boucinhas Consultoria, empresa da família do paulista, estava com um problema de continuidade de negócio. “Esse cliente ficava no centro do Rio de Janeiro e qualquer intervenção que acontecia no local, mesmo não tendo nenhuma relação ele, como manifestações e greves, a operação era interrompida. E aí o diagnóstico foi simples: por que os colaboradores do call center precisariam necessariamente estar no escritório para realizar esse tipo de atividade?”, explica o Boucinhas, hoje com 42 anos.
Diante do desafio, a consultoria trabalhou para implantar um atendimento de telemarketing remoto naquele cliente. “Olhamos para fora e vimos que nos Estados Unidos, por exemplo, já havia mais de 300 mil pessoas fazendo atendimento de call center em home office. Ou seja, é um modelo que está validado e que faz todo o sentido para as empresas, não só pela continuidade do negócio, mas pela oportunidade de inclusão social e por sanar problemas de mobilidade”, conta Boucinhas.
Problemas de mobilidade, aliás, é um fator que está ganhando cada vez mais destaque no mundo empresarial. Em uma pesquisa recente realizada pelo Instituto PARAR, em parceria com a Mindminers, com foco nos deslocamentos corporativos, 49% das pessoas abririam mão de 10% do que ganham ou de alguns benefícios para trabalhar mais perto de casa. Já 44% confirmaram que topariam ganhar 20% menos se pudessem gerenciar o próprio tempo, como é o caso do modelo de trabalho proposto pela Home Agent.
Obviamente, então, que a ideia de um call center remoto deu muito certo e a família percebeu uma oportunidade de negócio. Alguns meses depois, nasceu a Home Agent, um modelo de trabalho que, ao oferecer às empresas um call center especializada através de atendimento remoto, valoriza o tempo e a qualidade de vida do operador. “Temos acesso a um nível de qualificação muito superior, com um perfil predominante de pessoas que querem voltar ao trabalho, como mães por exemplo, que conseguem conciliar coisas que elas consideram essenciais, como ficar perto do filho e ao mesmo tempo retornar ao mercado de trabalho. Por isso, nossos operadores de call center valorizam a oportunidade e não abrem mão. Muito diferente do modelo tradicional, que muitas vezes é composto por jovens que entram na empresa já pensando em quando vão sair”.
Com o surgimento da Home Agent, um mercado conhecido pela alta rotatividade, ganhou mais flexibilidade e produtividade ao oferecer melhores condições de trabalho. Para os profissionais, é uma nova oportunidade de entrar no mercado, sem ter que se deslocar para regiões mais afastadas.
COM PROPÓSITO
Quem empreende sabe que nem só de boas ideias sobrevive uma empresa disruptiva e que um dos desafios é colocar a ideia em prática de uma forma que seja rentável para todos os envolvidos. Para apostar no sucesso da startup, segundo Boucinhas, foi preciso ir além e gerar uma proposta de valor para as empresas que contratam a Home Agent para terceirizar o call center. “Conseguimos viabilizar operações de altas especializações com nossos clientes. A Ambev, por exemplo, é um cliente que agora tem um call center especializado em cervejas artesanais para vender seus produtos dessa linha. Com a Nike, conseguimos formar um time de especialistas em corrida e em futebol para vender por telefone. Formamos também especialistas em carros para atender a Volvo. Entre inúmeros outros cases de sucesso. Por isso, reafirmo: o modelo de negócio da Home Agent permite não só vantagens operacionais para as empresas, mas também o acesso à pessoas que normalmente não trabalhariam em um telemarketing tradicional”, diz o CEO.
Quando questionado sobre a maturidade do mercado para aderir a um modelo tão disruptivo, Boucinhas é positivo e conta que as objeções diminuíram muito ao longo do tempo. “As preocupações vem pelo desconhecimento, porém nós atuamos dentro da conformidade da Lei Trabalhista e já temos muitos cases para validar o sucesso do negócio. Então, é interessante olhar a evolução das respostas ao nosso modelo, muitas empresas que antes questionavam ‘poxa, isso é do futuro mas não é para mim’, hoje já respondem com ‘Isso é óbvio, como ainda alguém pode ficar preso ao modelo tradicional?’”, conta ele.
Além disso, as transformações que a mobilidade está causando no novo mundo têm contribuindo para uma mudança de mindset no ambiente corporativo. “Toda essa questão de coworking, car sharing, bike compartilhada, Uber, vem mudando a percepção das pessoas perante a posse, a real necessidade de ter infraestrutura própria ou de controlar de perto seus colaboradores. Estar perto não significa controlar”, alerta Boucinhas. Além de contratar, qualificar os operadores e implementar a operação remota, a Home Agent entrega resultados a partir de métricas e indicadores que validam o trabalho realizado pela equipe.
MOBILITY FOR LIFE
Não há dúvidas de que o modelo de negócio da Home Agent é um sucesso e tem potencial para crescer acompanhado das mudanças provocadas pela mobilidade, pelas novas Leis da Terceirização e pelo novo mindset das empresas. Porém, a startup tem um propósito ainda mais latente para seguir batalhando por esse mercado tão disruptivo. Recentemente, a Home Agent firmou uma parceria com o Instituto PARAR e com a ONG Gerando Falcões e, juntos, deram vida ao projeto Mobility 4Life.
Para entender o propósito dessa empreitada, imagine o cenário: um morador de Poá, no extremo leste da Grande São Paulo, que trabalha no centro da capital paulista, tem que enfrentar, todos dias, um trânsito de pelo menos duas horas para chegar ao trabalho e as mesmas duas horas para chegar em casa, depois de um dia cansativo de expediente. Isso significa que 4 horas do seu dia são perdidos apenas em deslocamentos.
O projeto Mobility 4Life atua exatamente nessas 4 horas, devolvendo mais tempo à vida das pessoas. A iniciativa conecta os moradores de Poá, que são pessoas que não estão disponíveis, hoje, para o mercado tradicional de trabalho por questões de mobilidade, à empresas e empregadores adeptos ao modelo home office. “Ao dar suporte para que possam trabalhar em casa, nós estamos dando mais tempo para que eles gastem com aquilo que é importante, como estudar, fazer uma atividade física ou ficar mais perto da família, por exemplo”, explica Flavio Tavares, fundador do Instituto PARAR. Fabio Boucinhas ainda destaca que “as pesquisas realizadas pela Home Agent mostram um impacto grande em empoderamento, sensação de segurança e autoestima de pessoas que trabalham nesse modelo de negócio”.
O projeto, que iniciou recentemente suas primeiras contratações, pretende empregar, na fase piloto, cerca de 20 novos perfis de moradores de Poá na plataforma da Home Agent, mas podendo ultrapassar a marca de 100 profissionais, dependendo da adesão das empresas apoiadoras do projeto que possuem demanda para atendimento ao cliente e vendas. “Nós acreditamos que a mobilidade é um forte instrumento de inclusão e transformação social e, portanto, deve estar à serviço das pessoas”, ressalta Tavares.
💡Loraine Santos