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[ENTREVISTA] Bike elétrica é parte da solução para “imobilidade urbana” – Bruno Cahete

“Sem esforço, sem suor e sem poluentes, a versão movida a eletricidade é a alternativa mais conveniente para a locomoção nos centros urbanos”

A opção massiva pelo automóvel tornou as grandes cidades ambientes pouco humanizados e nada democráticos. Quem preza pelo direito de ir e vir de forma sustentável e com qualidade de vida passou a defender formas alternativas de transporte, dentre os quais, a bicicleta é a principal. As bikes sempre foram opção de lazer e de esporte. Hoje, são apontadas como uma das principais soluções para os atuais problemas de mobilidade.

Muita gente aponta a exigência do esforço físico e os consequentes cansaço e suor como argumentos para não adotar a bicicleta nos deslocamentos diários. Daí vem o grande sucesso das bikes elétricas mundo afora. O sistema responsivo reduz significativamente o esforço necessário e isso universaliza o uso da bicicleta. Independentemente da profissão, do trajeto ou da idade, ficou mais fácil e conveniente adotá-la como meio de transporte.

O empresário Bruno Cahete, que há mais de 20 anos trabalha com fabricação, importação e distribuição de bicicletas, tornou-se um entusiasta da versão elétrica e vem dedicado esforços para popularizá-la e torná-la mais acessível, já que a alta tributação, segundo ele, ainda é um entrave para a democratização do produto. Há três meses, Cahete criou a Bliv, uma bike elétrica de aluguel que pretende participar da revolução das bikes em São Paulo. Sobre isso, ele conversou com o PARAR e você confere abaixo a entrevista.

PARAR – Como surgiu a ideia de trabalhar com aluguel de bicicletas elétricas?

BRUNO CARRETE – Nos últimos dois anos, eu tenho acompanhado de perto o movimento da bike elétrica, que explodiu mundialmente, na Europa, nos Estados Unidos. Eu frequento muito as feiras internacionais e lá fora isso está em outro patamar, é muito comum a pessoa ter uma bicicleta elétrica hoje em dia. Aqui no Brasil, o imposto é o mais caro do mundo, a bike elétrica está classificada no mesmo IPI de perfumes e coisas supérfluas. Isso é um impeditivo porque o preço fica caro. Como é que a gente consegue fazer com que ela seja mais acessível para as pessoas? Foi aí que eu comecei a estudar o mercado de aluguel de bicicleta. Com essa opção, a gente transfere o produto para outras faixas de pessoas.

PARAR – E como funciona esse aluguel?

BRUNO CARRETE – Eu desenvolvi a bicicleta e tentei introduzir no mercado de aluguel de outras maneiras, mas não consegui. Então, resolvemos abrir nossa própria empresa de aluguel de bike. Nós fizemos uma estrutura 100% on-line, mas com entrega física. O processo é o seguinte: você entra no site, escolhe o plano, paga com cartão de crédito e aí nós vamos ligar e agendar a entrega entre 8h e 20h. Nós temos um parceiro, que é a Carbono Zero Courier, que faz a entrega da bike. E essa entrega eles fazem pedalando, por isso é um serviço chamado carbono free. Eles vão entregar a bicicleta e explicar como ela funciona, vão dar uma explicação técnica.

PARAR – Como tem sido a aceitação?

BRUNO CARRETE – Temos recebido bastante demanda de empresas. As pessoas ainda não sabem bem o que é a bicicleta elétrica e esse desconhecimento ainda gera uma barreira de crescimento. Acho que vão vir mais empresas de bike elétrica. A Yellow, que é uma plataforma de compartilhamento de patinetes e bikes, está crescendo bastante em São Paulo, outros modais estão surgindo e mudando a cabeça das pessoas. Precisamos de mais ciclovias porque, mesmo onde elas já existem, estão ficando pequenas para a quantidade de ciclistas. Serviços como Bike Itaú e Yellow não estão dando conta de atender toda a demanda. É um mercado que vai ter um boom, não tenho dúvidas.

PARAR – Qual é a demanda dessas empresas que têm se interessado pelo aluguel?

BRUNO CARRETE – Está começando um movimento de empresas interessadas em oferecer o aluguel de bikes para os seus colaboradores. Já tive reuniões, por exemplo, com empresas localizadas no Rochaverá, um condomínio comercial na zona sul de São Paulo onde trabalham cerca de 25 mil pessoas. Uma vaga de estacionamento ali custa cerca de R$ 400 ao mês. O aluguel da Bliv custa R$ 249 ao mês no plano anual. Estamos vendo qual seria a responsabilidade da empresa ao oferecer essa opção para os funcionários. Percebo que existe vontade por parte das empresas, mas elas querem se proteger juridicamente porque acham que é um modal perigoso. Em breve, acho que vai ser uma opção.

PARAR – Qual é o perfil do usuário desse serviço?

BRUNO CARRETE – Eu sou um exemplo do perfil. Abandonei o carro e hoje só utilizo a bicicleta elétrica e serviços de aplicativos de viagens, porque está surreal andar de carro em São Paulo. Apesar de trabalhar com bikes há mais de 20 anos, eu não a usava como meio de transporte. Considerava a bicicleta um exercício físico, por isso eu tinha uma certa resistência, não achava que eu seria um usuário da bike elétrica. Até que teve a greve dos caminhoneiros, em maio do ano passado. Fiquei sem gasolina e trabalhei uma semana de bike elétrica. Hoje, eu uso muito e já faz parte do meu dia a dia. Não tem cansaço, nem suor, porque o sistema da Bliv é responsivo, você pedala com esforço quase zero e a bicicleta faz o resto. Há pesquisas que mostram que 50% dos deslocamentos em São Paulo são de até cinco quilômetros. É uma distância perfeita para se fazer de bike elétrica.

PARAR – Que tipo de estratégia vocês têm adotado para popularizar esse modal?

BRUNO CARRETE – Eu vinha focando numa estratégia mais voltado para os departamentos de recursos humanos de empresas, com a proposta de oferecerem o aluguel da bicicleta para os funcionários. Mas recentemente um fato mudou um pouco o curso da empresa: um entregador entrou em contato comigo interessado em alugar a bike para ter um deslocamento mais rápido, alcançar mais clientes e oferecer um serviço mais eficiente. Quer dizer, existe outro público que eu não estava fazendo contato. Agora estou fazendo um projeto específico para atender os entregadores. Estou estudando quais são as necessidades e dificuldades deles. Por exemplo, a autonomia da bateria, que é de 25 a 30 quilômetros, pode ser insuficiente para esses profissionais. Então, pensamos em criar pontos de trocas de baterias, criar uma estrutura de atendimento para eles.

PARAR – Você acredita que o serviço de aluguel de bicicletas elétricas pode ser a solução para os problemas de mobilidade nos grandes centros?

BRUNO CARRETE – Com toda a certeza, a bicicleta é a melhor solução para a mobilidade. A popularização da bicicleta como meio de transporte é capaz de diminuir o inchaço das ruas, melhorar a convivência urbana, dar liberdade de locomoção e promover uma revolução na mobilidade das pessoas. Mas isso depende de um conjunto de coisas: precisamos ter mais empresas alugando bikes, mais ciclovias na cidade, mais educação no trânsito. Temos, no Brasil, um atraso cultural, mas já melhorou muito e a cada ano temos evoluído mais nesse sentido.