Entendendo que prioridades mudam e valores permanecem, empresas alteram a mentalidade e investem mais em cultura de segurança, política de segurança rodoviária, treinamentos e novas tecnologias, a fim de salvar vidas e transformar a realidade do trânsito.
No Brasil, uma pessoa morre a cada 15 minutos em decorrência de um acidente de trânsito. A cada dois minutos, uma pessoa sofre sequelas por causa de ferimentos, segundo estatísticas do Observatório Nacional de Segurança Viária (Onsv). São dados alarmantes, que mostram o quanto a segurança no trânsito deve ser uma discussão diária nas empresas e na sociedade como um todo. E mais do que isso: vir acompanhada de ações concretas. Para se ter uma ideia, em 2019, o Brasil foi considerado o 4º país com mais mortes em acidentes de trânsito, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Além disso, em 2020, o total de indenizações pagas foi de 310.710, sendo 33.530 relacionadas a morte, 210.042 por invalidez permanente e outras 67.138 por despesas médicas.
Não estamos falando apenas de números, mas de vidas. São pais, mães, amigos, irmãs, filhos e esposas. São trabalhadores, que saem cedo de casa. São condutores de frotas. Entendendo a gravidade e a seriedade do problema, a segurança tem passado a ser mais do que uma prioridade, tornando-se um valor da companhia. E sabe por quê? Pelo fato das prioridades mudarem e os valores permanecerem. É assim que Rogério Nersissian, gerente de HSSE da Shell, encara a segurança no dia a dia da empresa. “Temos regras que salvam vidas e fazem parte da nossa jornada. E queremos avançar. A segurança é um valor que acreditamos e, por isso, tomamos as decisões certas, em todo tempo e em todos os níveis da empresa”, afirmou durante participação no painel “Segurança não é prioridade?” na 7ª Conferência Global PARAR.
A Shell é uma empresa global com cerca de 92 mil funcionários, que atua em mais de 70 países e territórios. Ao encarar a segurança como um valor, uma grande quantidade de vidas são poupadas pela companhia mundo afora. “É um tema apaixonante a partir do momento que entendemos o nosso papel e entendemos que gestores de frotas são, acima de tudo, gestores de vidas”, observou.
Segundo Nersissian, existem três fundamentos importantes, que devem ser levados em consideração no momento de implementar um programa de segurança: liderar pelo exemplo, comunicar o que será feito à equipe e reconhecer os progressos. “Liderar não é apenas mostrar o caminho, mas andar junto. Além disso, devemos lembrar que a melhor forma de mudar o comportamento das pessoas é reconhecendo os seus progressos“, pontuou, acrescentando que, por outro lado, se um colaborador conhecer bem as regras e, ainda assim, violá-las, deve-se pensar em algum tipo de punição. “Só assim evoluímos”.
➢ Os valores definem o que nós acreditamos e somos
Gustavo Benegas, especialista em segurança técnica da Progen S.A., ratifica a ideia de que deve haver um tratamento específico para os casos de desvios de condutas. “O gestor de frotas tem o papel fundamental de proteger e de salvar a vida dos seus motoristas. Precisa buscar estratégias para tornar a segurança um valor, pois os valores definem o que nós acreditamos e somos”, defendeu.
Na visão dele, a cultura de segurança deve ser implementada em cima de alguns pilares fundamentais. “É importante colocar em prática tudo o que é falado e defendido, mesmo diante de situações adversas e momentos de crise. Além disso, deve-se buscar que todas as pessoas sejam líderes quando o assunto é segurança, desenvolvendo uma liderança individual”, citou, ponderando que para isso é primordial contar com uma equipe de funcionários empoderada e energizada. “É preciso deixar que eles se expressem”, destacou durante sua participação na 7ª Conferência Global PARAR.
Por isso, outro ponto que faz toda a diferença na implantação e no sucesso da cultura de segurança, de acordo com Benegas, é a comunicação transparente e participativa. “Não deve ser impositiva, mas sim uma comunicação de duas vias”, alertou. Todo este envolvimento da equipe, faz com que as normas estabelecidas sejam seguidas e os resultados aconteçam. “Aplicar a Política de Frotas, respeitar a legislação de trânsito e a Política de Direção Defensiva, com uso adequado do veículo, manutenção apropriada, sistema de prevenção, por exemplo, também são ações que devem estar presentes”.
Concomitante, o treinamento dos motoristas precisa ser contínuo e metas
devem ser estabelecidas de acordo com a cultura de segurança da organização, sua realidade e o patamar em que se encontra. Além disso, deve haver sistema de reconhecimento.
➢ Telemetria: Verdadeira Aliada da Segurança
Para reconhecer os bons comportamentos dos motoristas da frota, uma alternativa é usar as informações da telemetria. Os dados fornecidos pela ferramenta também podem servir de pontapé inicial no momento de implementar a cultura de segurança. Através dela, é possível identificar o índice de multas, acidentes, gastos e afastamentos no dia a dia dos condutores, traçando o cenário da companhia e servindo de alerta de que algo precisa ser feito.
A telemetria da Golfleet oferece uma plataforma completa, rápida, dinâmica e inteligente, que apresenta dashboards intuitivos, relatórios personalizados e informações que realmente interessam ao gestor de frota. Dentre os indicadores da telemetria mais utilizados, está o excesso de velocidade e o módulo Velocidade por Via (Vvia), que faz uso da tecnologia para medir, de forma precisa, a velocidade do condutor. Com o Vvia, a velocidade de todas as posições dos veículos da frota são validadas seguindo a regra dos órgãos de fiscalização urbana e rodoviária, gerando informações precisas sempre que o condutor exceder a velocidade permitida. Uma mesma via pode ter diversos trechos com velocidades diferentes e o sistema Golfleet permite identificá-los com precisão.
“Não podemos interromper trabalhos e nem assistir ao retrocesso da segurança rodoviária, pois custa vidas”.
Afirma, José Fernando Guilherme
➢ Para muito além da empresa
A telemetria também pode servir de base quando falamos de segurança rodoviária. “Não podemos interromper trabalhos e nem assistir ao retrocesso da segurança rodoviária, pois custa vidas”, salientou José Fernando Guilherme, gestor de frotas e projetos, do CTT Portugal.
Coordenando um Programa de Segurança Rodoviária desde 2015, ele lamentou a ausência de consciência da real importância da segurança rodoviária. “Não é que não tenham conhecimento dos dados e dos acidentes. É que a atenção dada não é suficiente. Precisamos mudar isso”, falou. O gestor citou que existem iniciativas para discutir o problema, como a Semana Europeia da Mobilidade, que acontece anualmente na Europa, e a Semana Nacional do Trânsito, realizada no Brasil. “Todas estas ações fazem a diferença, mas deve haver mais agenda para tratar o tema. Os programas de segurança das empresas também são fundamentais”, mencionou na 7ª Conferência Global PARAR.
Em seu Programa de Segurança Rodoviária, Guilherme busca desenvolver uma cultura de segurança, envolvendo todos os níveis de gestão, estudando os sinistros verificados e disponibilizando conteúdos e formações especícas. “O objetivo é reduzir os acidentes. Importante haver um controle permanente dos acidentes e das ações implantadas, além de reconhecer as melhores equipes e os melhores condutores”, falou, complementando que através do programa foi possível reduzir cerca de 80 mil dias de inatividade laboral.
O objetivo principal é salvar vidas, mas ao aumentar e investir em segurança, há uma significativa redução e controle de custos: com combustível, manutenções, multas e com os acidentes em si. Para se ter uma ideia, durante a NAFA Virtual Experience 2021, especialistas mostraram que o custo econômico total de uma colisão veicular para um empregador pode superar 16 mil dólares, se não houver ferimentos. Se houver feridos, pode chegar a 74 mil dólares e, no caso de envolver alguma morte, pode alcançar a cifra de 500 mil dólares. Sem falar no valor de uma vida, que é incalculável.
Além disso, as companhias que encaram a segurança como um valor, contribuem com a sociedade como um todo, uma vez que o condutor da frota leva os novos hábitos para sua casa. Com isso, passa a dirigir com mais cautela e segurança ao transportar também suas famílias, impactando e servindo de exemplo para as pessoas que estão à sua volta.
Fonte: Paula Bonini, para a 22ª edição da PARAR Review