• pt
  • en
  • es

Blog

Um novo jeito de fazer coisas antigas

“Com as mudanças de hábitos e de mindset, startups são responsáveis por oferecer novas soluções para as exigências dos consumidores e do mercado”

 

Soluções novas para desafios antigos: é essa a força motriz das dezenas de startups que estão surgindo e mudando a forma como nós pensamos e fazemos as coisas. A nossa vida cotidiana envolve problemas e desafios que fogem do nosso controle, seja a falta de tempo, o trânsito, o excesso de trabalho ou nosso próprio cansaço, físico ou mental.

As startups são empresas novas que vendem mais do que um produto: vendem ideias, um novo jeito de fazer. É fato que, às vezes, criar um “novo jeito de fazer” pode parecer uma missão difícil, até um desafio, mas o mundo está cheio de exemplos que provam que é possível e, mais que isso, que dá (muito) certo.

É o caso da já consagrada Nubank, por exemplo: a fintech (empresa de inovações na área de finanças) revolucionou a forma como nós nos relacionamos com o dinheiro e administramos nossas finanças. A marca surgiu com a solução de criar um cartão de crédito totalmente independente de qualquer banco, sem taxa de anuidade e com juros mais baixos quando comparados a outras operadoras de cartão. A ideia se encaixava perfeitamente na nossa vida corrida: todas as transações são realizadas através de um aplicativo para smartphones, sem necessidade de pegar filas no banco ou de perder horas no telefone tentando contato com algum atendente. Hoje, a Nubank já tem mais de um milhão de clientes e está avaliada em mais de US$ 1 bilhão.

Outro exemplo é a Netflix, uma febre do audiovisual. A empresa nasceu como uma distribuidora de DVD’s por correio: o cliente fazia seu pedido online e recebia o conteúdo em sua casa, pelo tempo que quisesse. O sucesso foi tanto que o conteúdo passou a ser oferecido também em streaming, ainda em um plano de assinaturas – a tarefa de ir até uma locadora, encontrar um título e levá-lo para casa tornou-se inútil. A Netflix oferece um catálogo totalmente online: os fundadores tentaram vender a ideia à gigante rede de locadoras físicas Blockbuster, que recusou a proposta, já que acreditava que a ideia super inovadora ia dar errado. Pelo contrário, hoje, a Netflix tem 262 milhões de usuários e vale mais de US$ 1 bilhão, enquanto a Blockbuster anunciou sua falência em 2013.

Não restam dúvidas que inovar tem grandes chances de dar certo e que investir em uma nova ideia pode mudar o mercado e a vida das pessoas. Quem já sabia disso há mais tempo, trabalhou suas ideias e agora está chegando mais longe baseado na sua inovação. Por aqui, outras startups estão surgindo com ideias simples, mas revolucionárias.

 

➡ A Uber dos caminhões

“Eu não sou um startapeiro”, se define Carlos Mira, fundador e CEO da inovadora TruckPad. Mira explica: foi só depois de mais de 30 anos de experiência no setor de transportes em uma empresa familiar que ele teve a iniciativa de investir na inovação e criar sua startup. Ele não se identifica com o perfil típico dos fundadores de startups: jovens e recém-formados; para ele, seu diferencial não é a criatividade da juventude, mas a experiência no mercado.

A TruckPad nasceu de uma viagem do empresário ao Vale do Silício, inspirado pelos níveis de inovação e tecnologia da Califórnia e pelo recém criado Uber, voltou de lá decidido a criar um sistema que pudesse ligar caminhoneiros a empresários que precisassem transportar suas cargas. A ideia, no entanto, não foi bem recebida pela família, com quem dividia o comando da empresa.

A plataforma funcionaria através de um aplicativo que pudesse ser baixado pelos caminhoneiros e os auxiliasse a encontrar novas oportunidades. Apesar de ser uma ideia ótima, Mira tinha um desafio: os smartphones ainda não eram tão populares no Brasil, menos ainda entre os caminhoneiros, como ele pôde constatar em suas pesquisas. Por isso, precisou criar uma infraestrutura para colocar seu projeto em prática, comprou smartphones para a sua equipe e ensinou cada um a usar o aparelho e o aplicativo – foi uma jogada certa: hoje, o aplicativo tem mais de 700 mil downloads em apenas três anos de mercado.

Muita gente não acreditou que a startup pudesse dar certo, conta Mira, porque achavam que mudar o mindset dos caminhoneiros era um desafio muito grande. O fato é que a perspectiva mudou e agora o desafio é das empresas, que não conseguem deixar os antigos protocolos e regras para passar a usar a ferramenta. Para Mira, o sucesso das startups está na ousadia de seus fundadores: “Eles querem resolver problemas sem seguir as regras, mas se baseando na lógica do processo”.

 

➡ Inovar é unir mobilidade e informação

No caso da Scipopulis, startup de soluções de mobilidade, o incentivo para inovação veio direto de um grito das ruas, literalmente. Eva Furtado, a designer da Scipopulis, conta que a ideia surgiu durante as manifestações de junho de 2013, que tinham como pauta o transporte público. “Esse momento foi um ponto de inflexão marcante na história por trazer a mobilidade urbana como uma pauta protagonista, e não secundária. A partir daí, várias iniciativas surgiram para ajudar o poder público a resolver demandas da população. Uma das principais delas era a informação.”, explica ela.

Assim, a Scipopulis mantém os usuários conectados às informações do transporte público: a startup oferece aplicativos que funcionam com atualizações sobre a situação dos ônibus e da rede de transportes de São Paulo. A solução é simples, mas o provedor do transporte, que é o poder público, não conseguiu alcançá-la. Eva explica o porquê: “O poder público, além da burocracia, tem dificuldades jurídicas para aquisição e fomento de inovação. O diferencial das startups é conseguir prototipar e lançar soluções muito rápido”.

Apesar de ter os smartphones e os apps como principais aliados para pôr essa ideia em prática, a tecnologia não pode se resumir a isso: “A informação pode estar disponível nos pontos de ônibus, em páginas offline, em painéis oferecidos pelas próprias empresas, em meios físicos de integração como cartões. Os smartphones permitem acessos em tempo real, o que é muito positivo, mas que não deve ser um fator excludente para populações de baixa renda e com baixo acesso tecnológico”, acredita Eva.

A certeza de que a inovação e a ideia parta das startups é clara, no entanto, às vezes, para funcionar, é preciso apoio de outros lugares. “Provavelmente, das startups venham soluções de fácil implementação, mas o capital, a massificação e as regulamentações virão das grandes empresas e poder público.”, finaliza Eva.

 

➡ Para driblar a memória

Quem nunca esqueceu de comprar aquele remédio diário e só lembrou na hora de tomar a próxima dose? Foi pensando numa solução para esse problema que nasceu a Remédio Certo, com a proposta de auxiliar os pacientes na gestão do tratamento de uso contínuo, garantindo que eles recebam os medicamentos em casa sempre antes que suas cartelas acabem.

A startup é um clube de assinatura de medicamentos, o usuário se inscreve e coloca suas informações, desde quais remédios você precisa, até a data que deseja receber e pagar. A iniciativa previne que alguém acorde um dia de manhã e perceba que esqueceu de comprar seu medicamento: a Remédio Certo entrega automaticamente na sua casa.

Gabriela Balazini é a co-fundadora da Remédio Certo e explica que a evolução parte do consumidor para as startups e não o contrário: “As pessoas estão cada vez mais conectadas e menos dispostas a se deslocar e ter trabalho com processos cotidianos e simples. As startups vêm para revolucionar a forma como as pessoas interagem com os produtos do dia a dia, transformando o simples ato de compra em uma experiência de consumo”.

Mudar o mercado do varejo envolve outros fatores, além da relação com o consumidor. No mercado da saúde, por exemplo, Gabriela conta que o desafio foi grande: “O mercado de saúde é altamente regulado, atualmente, vemos pouca inovação nessa área no que tange à indústria e ao relacionamento com os medicamentos. Logo que começamos a operação da RemédioCerto, tivemos que lidar com a Anvisa, Covisa, CRF e demais órgãos regulatórios, infelizmente, no Brasil, esses processos todos fazem parte do jogo. Sobrevive quem se adapta e foi o que fizemos.Não reinventamos a roda, utilizamos de toda estrutura que já existe e já trabalha muito bem esses agentes”.

Uma única ideia isolada, pensada por uma única empresa, no entanto, não é suficiente para mudar o mindset: “Esse movimento não é solitário, uma única startup não consegue revolucionar o mercado de varejo, por exemplo, porém, ao juntarmos diversas iniciativas que trabalham muito bem problemas distintos, as soluções ganham força, e aí sim, temos uma disrupção no mercado”, explica Gabriela.

 

➡ Para facilitar o dia a dia: assistente pessoal e app

“O principal objetivo da Rappi é justamente facilitar a vida das pessoas que não têm tempo para sair de casa ou do trabalho para fazer compras no supermercado, comprar comida, farmácia, ou apenas querem comodidade”, é como explica o papel da Rappi o country manager da Rappi, Bruno Nardon.

A Rappi surgiu como um aplicativo que tem uma função simples, mas que facilita a vida das pessoas de forma intensa: ele oferece a opção de entrega de qualquer item de necessidade do cliente. E quando a gente diz qualquer, é qualquer mesmo, os assistentes pessoais da Rappi podem buscar a chave que você esqueceu em casa, entregar sua papelada no banco, trazer aquele remédio para dor de cabeça ou lanche daquele carrinho de rua que ainda não tem entrega. Nardon conta que os assistentes já viveram situações inusitadas, mas de sucesso: “Em fevereiro, lançamos um botão chamado Carnaval, que conectava clientes a assistentes na Rua 25 de Março, em São Paulo. Nós tivemos uma cliente que solicitou uma fantasia e nos mandou um feedback impressionada que o assistente foi a 5 lojas em busca da fantasia e ainda a colocou em contato com as vendedoras”.

Para Bruno Nardon, não são as startups que estão mudando o mundo, mas as necessidades que estão diferentes e exigindo novas soluções: “A natureza das startups é atender às necessidades de forma inovadora. Vimos uma necessidade e estamos propondo soluções aos nossos clientes. Os hábitos de consumo vêm mudando gradualmente durante os anos. Antes, as pessoas não tinham costume de pedir comida em casa, mas aí foram surgindo os catálogos, as pessoas passaram a pedir por ligação telefônica. Agora, temos apps que oferecem essa comodidade”.

 

💡 Ana Luiza Morette