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Carros seguros e carros conectados. Os dois combinam?

“Como os avanços tecnológicos da indústria automotiva podem atribuir ainda mais segurança a motoristas, passageiros e pedestres.”

Quando falamos em segurança automotiva é importante refletirmos sobre o impacto que a produção de carros mais ou menos seguros causam no trânsito e na população que lida diretamente com ele. De acordo com o DPVAT, 42.501 pessoas morreram no trânsito brasileiro em 2015, 19% a menos que no ano de 2014, mas ainda é um número muito significativo e preocupante. Além disso, 515.751 pessoas ficam inválidas permanentemente no ano passado.

Dados alarmantes e que nos fazem repensar sobre quantas vidas e famílias são diariamente impactadas por tragédias que acontecem nas ruas e rodovias do país. As estatísticas mostram que 93% dos acidentes são causados por erro ou negligência humana, mas será que se tivéssemos carros mais seguros, seguindo os padrões que vemos na Europa, os números seriam esses?

Uma das estratégias estabelecidas pela ONU para reduzir o número de mortes e feridos em acidentes de trânsito é, justamente, ampliar a segurança dos veículos. Infelizmente, aqui no Brasil, as tecnologias e equipamentos de segurança obrigatórios utilizados na fabricação de veículos, assim como na maioria dos países latino-americanos, estão 20 anos defasados. De acordo com a Latin NCAP, a maioria dos automóveis do Brasil, especialmente os populares, equivalem aos comercializados na Europa em 1995.

“No nosso ponto de vista, em relação à segurança, o Brasil está desconectado com o resto do mundo”, revelou Alejandro Furas, secretário-geral da Latin NCAP. Para que a segurança dos veículos fabricados no Brasil cheguem ao nível recomendado pela ONU ainda seria preciso exigir itens, como controle de estabilidade eletrônico, norma de batida lateral, norma de proteção para pedestres (sistema capaz de reduzir riscos de atropelamentos), norma de proteção para cintos de segurança, ISOFIX (sistema seguro para a instalação da cadeirinha), norma de freios, e norma de proteção de pescoço no caso de batida traseira.

De acordo com pesquisas solicitadas pela Global NCAP, 34 mil vidas brasileiras poderiam ser salvas e 350 mil lesões graves poderiam ser evitadas em 2030, se essa normativa de segurança veicular da ONU fosse adotada pelo Brasil.

 

➡ Carros mais conectados e interativos

A realidade é que ainda não conseguimos chegar no estágio 1 (segurança) e já estamos indo para o estágio 2 (conectividade). Avanços no setor automobilístico, com o objetivo de entregar conveniência aos consumidores, abrem espaço para carros mais conectados e interativos. “Os carros simplesmente deixaram de ser máquinas isoladas para ser um verdadeiro ponto conectado às redes”, revelou Fabio Cossini, arquiteto de TI da IBM, em artigo publicado no Computer World.

Especialistas são enfáticos em dizer que os carros já nascem conectados. “Essa conectividade começou com o multimídia, com os painéis de navegação, passa pelos veículos elétricos e autônomos, e chega até o ITS (Intelligent Transport System), que permite a conexão do veículo com outro veículo e do veículo com a infraestrutura (estradas inteligentes)”, disse Ricardo Takahira, especialista em conectividade e diretor do Núcleo de Pesquisa e Tecnologia da ABVE (Associação Brasileira de Veículos Elétrico).

De acordo com estudo publicado pela Machina Research, até 2024, as redes móveis verão as conexões máquina-a-máquina crescer 10 vezes, ou seja, para 2,3 bilhões, e metade dessas conexões será automotiva. Já uma projeção da companhia de pesquisa de tecnologia Gartner, revelou que cerca de 1 em cada 5 veículos no mundo todo terá alguma forma de conexão com rede sem fio até 2020, o que representa mais de 250 milhões de veículos conectados.

“Temos acompanhado o lançamento de carros cada vez mais sensorizados, que permitem a produção de informações sobre o comportamento do automóvel, o comportamento do motorista e também da própria região no qual aquele veículos está transitando”, explicou Fabio Cossini. Tecnologias que oferecem novas experiências para motoristas, fabricantes e seguradoras.

Os motoristas podem navegar pela internet, acessar e-mails, controlar a temperatura interior do carro por voz, acionar dispositivos de direção autônoma e outras comodidades. Já os fabricantes podem receber dados sobre o comportamento e qualidade do seu produto e as seguradoras podem analisar o comportamento dos seus clientes ao dirigir ou oferecer serviços diferenciados.

Quando refletimos sobre a experiência do usuário com essa conectividade e o fato dele estar conectado ao mesmo tempo em que está dirigindo, algumas dúvidas e até inseguranças são levantadas, principalmente, em relação à atenção do motorista. Para César Urnhani, piloto e apresentador do Auto Esporte, as tecnologias vêm para facilitar, mas há o seu lado bom e o seu lado ruim. “O que falta, na minha opinião, é fazer um estudo mais aprofundado pensando no ser humano, que é quem vai usufruir do veículo. Pois, quando estamos dirigindo, as solicitações internas e externas são muito grandes e nos separam daquele momento que deveria ser de total atenção. Então, os engenheiros e técnicos deveriam estudar mais a capacidade de concentração do ser humano ao conduzir um carro”, afirmou.

Em paralelo a isso, ele reforça que a tecnologia permite o desenvolvimento de sistemas capazes de atuar como anjos da guarda em casos de falha do ser humano. “Um bom exemplo são os carros que conseguem ler as faixas de rolamento e avisar o motorista, através de vibrações no volante, ruídos ou efeitos de luz, para que ele volte sua atenção ao trânsito”, destacou.

Já Ricardo Takahira comenta que nem sempre a tecnologia é sinônimo de distração. “Pelo contrário, ela pode ajudar muito na parte de antecipação. Os sistemas de navegação, por exemplo, podem te alertar de um trânsito parado de forma mais eficiente do que a sinalização padrão”. Outro ponto a ser questionado quando se fala em conectividade são os congestionamentos de dados e ameaças de invasões.

Contudo, Fabio Cossini sugere que esse cenário pode ser evitado se uma nova consciência para a segurança for explorada em todas as fases da indústria automobilística, do projeto ao pós-venda. “A ideia é que todos os componentes de um veículo sigam padrões de segurança e passem por testes que preveem mecanismos de contingência em caso de falhas”, explicou.

Algumas montadoras já estão atentas à importância de oferecer tecnologia e segurança e estão trabalhando em inovações que prometem revolucionar a indústria automobilística. É o caso da Audi, que já trata o carro autônomo como uma realidade. “Começou com uma brincadeira de um carro super esportivo levar passageiros para uma pista de testes em alta velocidade, e antes disso tivemos a preocupação de fazer testes para verificar a segurança desse sistema, e acabou em um evento na Alemanha onde celebridades foram conduzidas até o tapete vermelho com carros autônomos”, revelou Gerold Pillekamp, gerente de marketing de produto da Audi do Brasil.

Segundo a consultoria financeira Morgan Stanley, até 2026 os carros deverão ser totalmente autônomos. Mas, para quem não quer esperar até lá, algumas soluções já estão incorporadas em carros disponíveis no mercado. Graças a tecnologias já bastante utilizadas em veículos de série, o carro é capaz de frear e acelerar sozinho, bem como fazer mudanças de trajetórias e ultrapassagens sem auxílio do motorista. “Seriam veículos 50% autônomos e que já podem ser adquiridos pelos consumidores”, ressaltou Pillekamp.

Para Fabio Cossini esse é o futuro.  “As empresas que puderem entregar segurança e conveniência aos consumidores, serão responsáveis por alavancar o verdadeiro poder do veículo conectado”, revelou.